A jardinagem pode ser considerada a arte de criar espaços
naturais e de fazer a manutenção de plantas com o objetivo de embelezar
determinados locais públicos ou privados. Para quem gosta, acompanhar o processo
da planta desde a plantação da semente até a chegada das flores ou a colheita
dos frutos, é um grande prazer.
Se observarmos de perto esta arte, poderemos abstrair algumas
metáforas da vida humana. Vejamos:
A escolha das sementes para o plantio deve ser
criteriosa. Elas devem possuir uma boa genética e ser livres de pragas e
doenças. Sementes fracas e doentes são certeza de insucesso. Infelizmente nem
sempre escolhemos boas sementes para o plantio das nossas relações. Encontramos
“sementes doentes” mas negamos, fechamos nossos olhos – pois nossa carência
está gritando mais alto do que o nosso amor próprio - e plantamos assim mesmo. Com
a ilusão de que se cuidarmos muito bem, a planta vai mudar sua natureza e
crescer sem doença. Só veremos o resultado lá na frente, com plantações que não
rendem todo o potencial que poderiam render se nossas sementes escolhidas fossem
saudáveis.
Escolher o local e as condições da plantação é também uma
etapa importante. Pode ser necessário preparar a terra para receber as
sementes. Cada planta tem sua própria necessidade. Precisamos conhecê-la para
saber qual ambiente e qual estação do ano são melhores para seu plantio. Se as
condições do plantio não condizem com a estrutura da planta, a morte é certa. É
no mínimo tolice querer exigir da planta que ela se adapte a ambientes
inadequados para sua estrutura. A planta não vai responder ao seu desejo e sim
o contrário.
Partindo dessa idéia, uma das características do plantio das
sementes é que as mesmas não podem ser aterradas muito próximas umas das outras,
pois isso pode prejudicar o crescimento da planta. Plantas e humanos precisam
de espaço para se desenvolver. Alguns pais “plantam” seus filhos tão
próximos de si mesmos, de forma que suas raízes acabam ficando muito
emaranhadas, os filhos não crescem o suficiente e acabam ficando sobre suas
sombras... Isso também acontece com casais que ainda acreditam que duas plantas
devem tornar-se uma só.
A profundidade da plantação também deve ser regulada de acordo
com recomendação ideal para cada semente. Algumas precisam de sol para
germinar, então devem ser colocadas sobre a terra sem serem cobertas. Outras,
se plantadas muito fundas podem não conseguir subir a superfície e morrer. Há
ainda as que se plantadas muito rasas podem gerar plantas fracas que tombam
facilmente. Penso que também o início das relações amorosas deveria ser assim:
nem plantado profundamente, nem no raso. Na primeira opção, vemos pessoas que
pulam de cabeça, em relações extremamente projetivas, onde cada um espera do outro
a salvação para suas misérias, o príncipe ou a princesa encantados, e acabam
“morrendo”, frustrados ou provavelmente sufocados. Na segunda opção, ficar na
superficialidade, também é inadequado para a “semente relacional”, pois não desenvolve
raízes saudáveis e fortes o suficiente para manter uma boa base que não tombe
com a primeira ventania de mudança de clima.
A rega dos primeiros dias da semeadura deve ser farta e com
lâminas bem finas de água, nunca jogando jatos de água. Talvez um borrifador
seja a forma mais delicada de rega. Este tipo de cuidado dá mais trabalho, mas
compensa pelos bons resultados. A rega das relações também precisa ser farta,
delicada e frequente. Algumas pessoas têm uma ilusão comum de que a relação
pode crescer sem essa dedicação. Amarga (des)ilusão.
As plantas também precisam do calor do sol para sua germinação e
crescimento, não de forma direta senão elas podem se queimar, mas de forma
indireta. Ou um local próximo da iluminação solar ou uma estufa devidamente
fechada com tela, são os ambientes climatizados ideais. As relações também
precisam do calor, e o sol aqui pode ser representado pelo calor do afeto, do
amor. Calor demais pode ser paixão, expectativa ou dependência demais e não
amor.
Além das relações, os sonhos e os desejos também são como as
plantas.
Muitas vezes tentamos plantar um sonho e um desejo num local
completamente inadequado para seu crescimento. Existem ambientes que não são
suficientemente férteis, ou não querem este tipo de planta que queremos
plantar, pois já estão acostumados com um jardim antigo, ou seco.
Outras vezes queremos trazer algumas plantas para nosso jardim
ou quintal, mas sua estrutura não condiz com nosso ambiente. Se forçarmos a
barra e insistirmos nessa plantação, podem acontecer duas coisas: ou a planta
morre ou nosso jardim ficará feio ou seco. Em ambos casos, ficamos frustrados,
com raiva, magoados e até mesmo cegos, podendo escolher tolerar – que não
significa aceitar - o jardim em tais condições a vida toda. Ou podemos, quem
sabe, despertar nossos olhos de sua cegueira, e mudá-lo, escolhendo outras
sementes e plantas afins.
Nessa nossa sociedade apressada e ansiosa, nem sempre temos a
paciência de acompanhar o processo de crescimento da planta. Queremos ir direto
para os frutos. Esquecemos que o tempo é um fator essencial. É
impossível colher flores ou frutos maduros dos nossos sonhos e desejos sem
passar por todas as etapas. Só poderíamos colher botões de flores, e frutos
ainda imaturos, não prontos para consumo ou com sabor de fruta verde.
A beleza e a magia estão em cada etapa do crescimento da planta,
desde a germinação, o nascimento das folhas, seu crescimento, a chegada das
flores e dos frutos e então o recomeço de um novo ciclo. Que possamos escolher admirar e festejar todos esses
momentos com alegria.
Desejo, neste Natal e em 2013, que você possa despertar,
aprender ou continuar praticando a arte de jardinagem da sua própria vida, e
que o seu jardim continue sendo ou se torne uma fonte de muita beleza e prazer para
si e para os seus!
Afetuosamente
Adriana Freitas