quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

MENSAGEM DE FIM DE ANO


Sempre tive um encanto especial pela estória “O Pequeno Príncipe” de Antoine Saint-Exupéry. São várias e belíssimas suas metáforas: o encontro do piloto com seu eu criança e todos os sonhos esquecidos após a entrada no mundo dos adultos; o valor da amizade que uma vez cativada nos torna responsáveis ela; o reconhecimento das coisas que são realmente importantes e que muitas vezes não sabemos enxergar pois estamos demasiado envolvidos no mundo adulto;  e no final a morte vista como uma transição e não como um fim.
Gostaria de destacar aqui duas passagens da estória, de especial importância para mim. A primeira mostra quando o Pequeno Príncipe começa a inquietar-se com as várias coisas que sua rosa lhe disse. Entristeceu-se e reconheceu que não sabia muito sobre a vida e foi então que decidiu viajar pelo mundo para aprender algo mais. Sua coragem é admirável.
A segunda passagem diz do contato inicial do principezinho com o piloto, onde o pequeno pede para o adulto que lhe desenhe um carneiro. E depois de várias tentativas frustradas, pois o piloto havia abandonado sua carreira de desenho aos seis anos, ao desenhar uma caixa com alguns buraquinhos onde o príncipe olhou, e com sua imaginação criativa viu o carneiro que desejava e ainda a caixa para servir de abrigo, foi que ele ficou satisfeito e agradeceu. Eis o desenho da caixa.

 
Neste período de comemorações de fim de ano, o que considero ser uma época que aproveitamos para falar sobre nossos sentimentos para as pessoas que gostamos e amamos, gostaria de lhe presentear com a mesma caixinha que foi desenhada ao Pequeno Príncipe, para que você possa olhar dentro dela, e através de sua imaginação criativa e ativa possa enxergar tudo que você deseja e sonha pra si mesmo! Sim! Se você se lembrar do espírito livre da criança que você foi, poderá não ficar aprisionado ao mundo adulto – como o piloto da estória estava e depois conseguiu modificar-se - e resgatar coisas importantes que ficaram para trás, inclusive a imaginação, a fantasia e a cria-ação.

Desejo também que a aventura do Pequeno Príncipe seja um convite para você começar a desbravar novos caminhos do seu mundo interno e externo com coragem e desejo de crescimento. Que as inquietações de sua vida lhe façam sair do seu lugar de conforto e lhe movam a buscar novos aprendizados, como aconteceu com o principezinho. E talvez você possa descobrir estradas que te levem a construir uma vida mais coerente com seus valores, sonhos e desejos...



Então, neste Natal e em todo o ano de 2012, desejo que esse espírito do Pequeno Príncipe esteja sempre presente dentro do seu coração, te oferecendo inquietação, coragem, busca e grandes transformações internas!

Afetuosamente, Adriana Freitas.

Dezembro 2011
Fontes: Antoine Saint-Exupéry. O Pequeno Príncipe. Ed. Agir. //  Filme: O Pequeno Príncipe. Direção: Stanley Donen de Lerner e Lowes’s

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UMA CARTA DE AMOR


As cartas de amor entraram em desuso. Mas quem não gostaria de receber uma? E poucos são os que admitem e menos ainda os que têm coragem de falar pois poderia parecer piegas, retrô.
Pensando em escrever sobre este tema, fiz uma primeira pesquisa no google, achei um programa no site baixaki.com.br, que se chama “Gerador de Cartas de Amor – 1.0” com a promessa de criar uma carta personalizada, que tivesse mais a ver com seu amor. O programa estava temporariamente suspenso. Caí na risada! Provavelmente não teve ibope. Porém existem muitos sites que oferecem cartas prontas.
Agora imaginem por que uma pessoa precisaria de um programa que lhe “ajudasse” a construir uma carta, ou de cartas prontas. As pessoas perderam a criatividade? Ou com a velocidade das informações elas preferem “o bolo pronto” pois assim economizam tempo?
Acredito, primeiramente, que não somos educados em nossas famílias para compreender e expressar qualquer sentimento. Especialmente os que são considerados negativos costumam ser totalmente reprimidos. Dessa forma não construímos a devida conexão com nosso lado afetivo-emocional e conseqüentemente não aprendemos a nos comunicar claramente sobre o mesmo com as pessoas as quais nos relacionamos. E para escrever uma carta de amor é necessário estar em profunda conexão com nossos sentimentos amorosos.
Em segundo lugar, na modernidade, após os movimentos de liberação sexual, muitas sociedades passaram a vivenciar a sexualidade de forma mais livre, apesar de o pensamento cultural sobre as relações de gênero não ter mudado no mesmo ritmo. Assim, os indivíduos não têm mais a necessidade de estar num relacionamento para experimentarem as diversas formas de contato com o outro. Isto por um lado, favoreceu uma permissão maior para a escolha das parcerias, mas por outro, trouxe o medo e a desconfiança com a vinculação, uma vez que culturalmente não houve uma mudança significativa nos papéis do homem e da mulher. Ainda existem expectativas retrógradas sobre os mesmos, do tipo o homem ter que provar sua masculinidade através da virilidade e a mulher ter que se comportar de forma recatada para ser considerada confiável. Nesse contexto, podemos reconhecer o aparecimento de um padrão de relações descartáveis onde vemos muitos casais que se dizem numa relação, mas com uma vinculação frágil devido ao medo da entrega, do abandono ou do sofrimento, e então, é melhor não declarar nem registrar o amor para não correr riscos. É uma forma de defesa.
Por trás dessa perspectiva de defesa, identificamos - o quarto ponto - também um sentimento de insegurança. Receber uma carta significa que alguém escreveu primeiro, e se declarou primeiro do que o outro. E neste contexto de relações fragilizadas, buscamos muitas vezes a segurança no outro, ou seja, eu tenho que ter certeza de que o parceiro está se entregando para só posteriormente eu me entregar. Assim, nos focamos no outro esperando sua reação, para que ele nos dê a segurança de que podemos “entrar nesse barco”, e nos esquecemos de olhar pra dentro de nós mesmos e entrar em contato com nossos sentimentos mais profundos a respeito do relacionamento. Realmente, não ser correspondido é uma ferida ao ego e ao coração, mas acredito que é melhor ser ferido por um dia ter amado do que manter o próprio coração intacto de cicatrizes pelo medo de amar. A segurança precisa vir de dentro, quando aprendemos que merecemos ser amados, mas não temos nunca o controle sobre os sentimentos do outro e que não precisamos mendigar amor, pois a vida oferecerá novas oportunidades para a troca amorosa realmente acontecer.
Por último, não podemos esquecer também da função do avanço tecnológico que nos trouxe a velocidade da comunicação da Internet, que têm deixado a escrita manual em segundo plano. Mas e-mail de amor não é válido para os corações dos amantes!! A escrita impressa é fria, a escrita a mão é quente, podendo muitas vezes ter até cheiro e lágrimas...
Dois filmes que assisti há algum tempo, fazem referência a carta de amor. No filme “Noivas”, com direção de Pantelis Voulgaris, quando Niki descobre a carta de amor que Norman havia deixado pra ela - na ocasião do encontro deles no navio que migrava as noivas que iriam se casar na América - numa caixa com as fotografias das noivas, ele declara seu amor no início da carta dizendo “só pra você não dizer que nunca recebeu uma carta de amor”. O amor que não pôde ser vivido ficou guardado no coração de ambos e eternizado pela carta.
No filme “O Clube de Leitura de Jane Austen”, dirigido por Robin Swicord, um dos casais passa por uma crise conjugal e separação (Daniel e Sylvia). Daniel foi o traidor e depois de arrependido, ao tentar recuperar seu casamento com Sylvia, entra para o Clube e numa das conversas com Bernadette, comentando sobre os homens vistos pelo olhar de Jane Austen, afirma que nunca devemos subestimar o poder de uma carta bem escrita. Então ele tem um insight e escreve uma carta de amor – entre outras coisas – para a ex-esposa de forma que consegue resgatar o casamento.
Qual é então o poder de uma carta de amor?
Abrir o coração para explicitar os nossos mais profundos sentimentos, é nos deixar nu diante do amado, mostrando toda nossa fragilidade para ele. Esta é uma das maiores demonstrações de confiança e entrega.
A carta nos ajuda a falar do que nem sempre conseguimos falar na frente do amado, pois diante dele, nossas emoções nos perturbam o coração, os pensamentos e a linguagem, e assim nos faltam palavras. Ao escrever a carta, estamos distantes, o que nos dá o distanciamento necessário para conseguirmos colocar as idéias em ordem e poder passá-las para o papel e em seguida para o amado.
Uma carta de amor concretiza aquele sentimento que o outro tem por você. É uma prova de que um dia alguém te amou. E se você quiser, pode guardá-la “eternamente”, enquanto tiver vida. Eternizá-la.
Eu confesso o meu desejo de um dia receber uma carta de amor... Talvez no fundo eu ainda sofra daquele romantismo antigo... Tenho que admitir, esta é a verdade!
Eu sempre pensei o quanto seria emocionante receber uma carta de amor, mas depois de escrever este texto, eu fiquei pensando o quão maravilhoso seria, um dia, desejar escrever uma carta de amor...
Adriana Freitas

domingo, 16 de outubro de 2011

TRINTA E DOIS


Refletindo sobre a chegada dos meu trinta e dois anos, resolvi escrever as trinta e duas coisas importantes que aprendi ao longo da vida, que fizeram grande diferença para meu crescimento. Com certeza não contemplo aqui todo o arcabouço do meu aprendizado, mas estes itens foram e são muito significativos pra mim, não necessariamente na ordem que foram descritos.

Aprendi a...
  1. Acolher meus próprios abandonos
  2. Buscar sempre o autoconhecimento
  3. Buscar conhecer melhor os outros significativos da minha vida
  4. Acolher minha criança interna
  5. Acolher meu adolescente interno
  6. Identificar os padrões familiares que não quero repetir e sair deles quando os identifico na minha vida
  7. Buscar ser coerente com meus valores e formas de pensar e ver a vida
  8. Me colocar em primeiro lugar nas minhas prioridades
  9. Me responsabilizar completamente por cuidar de todas as minhas necessidades
  10. Buscar suprir minhas carências básicas
  11. Aceitar meus pais como eles são, sabendo que eles nunca serão o ideal de pais que gostaria que fossem
  12. Desidealizar as pessoas no geral
  13. Ser humilde e buscar ajuda quando preciso
  14. Fazer escolhas de saúde e de não permanência na doença
  15. Entender que toda escolha tem um lado de perda e outro de ganho
  16. Aceitar as perdas
  17. Perder o controle
  18. Parar de querer controlar a minha vida
  19. Aceitar as oportunidades que a vida oferece
  20. Buscar me desenvolver na minha profissão que é minha vocação
  21. Buscar o prazer nas coisas grandes e pequenas da vida
  22. A lidar com o tempo com menos ansiedade
  23. A não abrir mão dos meus desejos mais profundos
  24. Buscar construir a realidade que desejo
  25. Esperar o amor com menos ansiedade
  26. Valorizar a família de amigos, com quem tenho uma verdadeira intimidade
  27. Valorizar o prazer em suas diversas formas
  28. Buscar me aceitar como eu sou
  29. Ser menos dura comigo mesma
  30. Ser mais amorosa e condescendente comigo mesma
  31. Receber
  32. Valorizar minhas raízes e fortalecer minhas Asas.
Adriana Freitas

ENXERGAMOS O QUE SOMOS


Nossa percepção é extremamente seletiva. O que enxergamos está diretamente ligado ao que somos.
Outro dia fui fazer uma viagem, fiquei num hotel, e depois ao encontrar com minha irmã, quem tinha feito a reserva pra mim, ela me falou que no quarto tinha televisão e eu disse que não tinha. Ela achou estranho pois no ato da reserva afirmaram que teria. Ao voltar pro hotel, me deparei com a TV, bem em destaque na parede, próximo de onde eu havia colocado algumas bolsas.
Como explicar o por que eu não tinha visto o objeto? Por que minha percepção não o tinha captado? O fato é que assistir TV convencional não é uma prática tampouco um prazer na minha vida. Eu tenho sim costume de assistir filmes, o que é bem específico e não era um interesse para mim durante aquela viagem. Por outro lado, eu estava muito empolgada, bem enfocada com meu objetivo e totalmente envolvida emocionalmente com a idéia do reencontro com os familiares e então minha percepção ficou “reduzida” a isto.
Lembrei também de um outro momento no qual a percepção revelou a pessoa. Estávamos minha amiga e eu passeando na região da Savassi em BH, quando nos deparamos com um casal que passeava com dois cachorrinhos e um bebê. Minha amiga é apaixonada com cães e parou o casal para brincar com os bichinhos. Depois que nos despedimos, eu comentei com ela do bebê e ela me disse que não tinha nem visto a criança. Ela não tem interesse em ter filhos e até mesmo se irrita com algumas situações onde há barulho ou movimento de crianças, na visão dela incomodando.
Vemos então como nossa visão/percepção está limitada, condicionada pelas nossas idéias, valores, sentimentos, emoções, desejos e formas de ver a vida.
No filme “Quem somos nós” com direção de William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente, identificamos a questão da percepção, em uma das cenas que se refere ao momento da colonização, quando os barcos estavam chegando no continente e os índios não puderam vê-los, pois aquela imagem era completamente desconhecida e diferente de tudo que eles poderiam imaginar, até que um deles viu e então os outros foram enxergando.
Antigamente a ciência, numa busca de objetividade plena, considerava que o cientista deveria ser neutro para não interferir no observado e a realidade pudesse ser desvendada na sua forma mais pura. Atualmente, com a evolução da ciência e a emergência dos novos paradigmas, uma das discussões se refere a inclusão do observador como parte da realidade observada, não existindo portanto, uma realidade pura sem um contexto ou uma relação observador-observado. Ou seja, também no contexto científico já se considera o indivíduo que percebe, sendo o cientista também um ser limitado pela sua percepção e suas contribuições estão relacionadas a quem ele é.
Se a nossa percepção está ligada ao que somos, se só enxergamos o que temos história pra enxergar, como podemos ampliar então nossa percepção? Se é que queremos realmente ampliá-la... (Tenho certeza de que muitos não querem por comodismo ou por medo).
Acredito que a chave para essa ampliação é a abertura para experimentar o que a vida tem a nos oferecer. Nunca chegaremos a uma percepção total, pois isso é impossível para nossa condição humana, mas se enfrentarmos nossos medos e se nos abrirmos para vivenciar o diferente, então uma nova percepção e realidade se abrirão para nós.
Para tal, é necessário desapegarmos das roupas velhas, e das nossas ilusões de segurança.
E construir a coragem para fazer novas escolhas...
Adriana Freitas

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

MEMÓRIAS GUSTATIVAS


Em um sábado de setembro de 2011, eu fui a uma palestra de um chef de cozinha de Belo Horizonte, Ivo Faria, onde ele nos incentivou a fazer um retorno ao nosso passado para relembrar de nossas memórias gustativas que começaram na infância. Eu nunca havia parado para pensar por que gosto tanto de gastronomia e ao me deparar com a proposta dele, busquei recordações da minha família de origem.
Inicialmente lembrei de coisas desagradáveis, como os cheiros de galinha ao ser depenada e sapecada, além do cheiro de peixe em abundância advindos das pescarias do vovô. Como estas memórias não justificavam o meu prazer, segui adiante buscando mais delas.
Na minha casa e em muitas famílias de Minas Gerais o lugar de receber visitas não é a sala e sim a cozinha. E quando a gente vai de visitas no interior, temos que tomar café em todas as casas porque senão seria uma grande desfeita ao visitado.
Então relembrei que a Titia, para agradar as visitas, fazia pães de queijo, biscoitos de polvilho e bolos doces e salgados. Coitada, apesar de todos os esforços ela nem sempre era bem sucedida, e vovô sempre batia o pão de queijo na mesa, mostrando que tinha ficado duro – ele não tinha a dentadura de baixo! Mas titia nunca se intimidou e seguiu fazendo sempre suas quitandas para nós, com muito amor. Chegávamos na casa dela de manhã para o almoço, íamos direto pra cozinha e só saíamos de lá depois do café da tarde.
Outra reminiscência importante é dos Natais em família. Costumamos nos reunir para comemorar, trocar presentes e principalmente: comer! Mamãe é a especialista em saladas, a titia faz o trivial, o titio decide sobre as carnes e eu tento levar alguma novidade. Eu disse pra titia que a puxei no quesito do exagero. Ela cozinha que dá para o dobro de pessoas que convidou e ainda fica com a sensação de que vai faltar. A mesa é sempre muito, muito farta e sempre sobra para almoçarmos lá no outro dia.
Ao me deparar com todas essas lembranças, pude compreender o quanto nossas memórias gustativas estão relacionadas com a forma como fomos ou não nutridos afetivamente pelas nossas relações e como elaboramos ou não essa nutrição.
Se fomos bem nutridos, se nossas relações afetivas foram suficientemente satisfatórias, o que não significa nutrição demais nem de menos e sim os dois pólos equilibrados, temos a possibilidade de lidar com a comida de uma forma mais saudável.
Mas se fomos pouco ou nada nutridos, possivelmente lidaremos com a comida de uma forma doente, podendo inclusive gerar as doenças alimentares como a obesidade, a bulimia e a anorexia – ou outras compulsões. Nesse mesmo grupo, vemos também aqueles que foram nutridos demais. A falta de frustração quando dura um longo período na vida de um indivíduo faz com que fique infantil, não acreditando que pode conseguir as coisas com as próprias pernas, já que sempre ganhou mais do que precisava e não precisou se esforçar para tal.
Depois de uma história nutritiva “insatisfatória” já efetivada, o que fazer então? No livro “Deixar de ser gordo” do Flávio Gikovate, uma das propostas de tratamento apontadas é a recondução da alimentação, na subjetividade, a categoria do prazer e não da obsessão, da doença. Entretanto, para conseguir sair da obsessão o indivíduo precisa enfrentar seus medos mais profundos de encarar suas carências e feridas emocionais, e ao fazê-lo, decidir como quer lidar com elas, saindo de qualquer vitimização para uma responsabiliz-ação, com ou sem ajuda de profissionais e grupos especializados.
Acredito profundamente que podemos construir memórias gustativas mais positivas na medida que nos responsabilizamos pela nossa nutrição interna, especialmente de afeto. Me dei conta que a minha paixão pela gastronomia aumentou na medida em que minha auto-nutrição amorosa melhorou.
E se não tivemos boas memórias do passado, nos empenhemos em construir, individualmente e com nossas parcerias atuais, experiências prazerosas no presente, que no futuro serão memórias para nos orgulharmos.
Adriana Freitas

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

FILHO PRÓDIGO AS AVESSAS


A história bíblica sobre o filho pródigo o aponta como aquele que estava morto e renasceu, aquele que estava perdido e foi resgatado.
Mas ao rever essa história fiquei fantasiando sobre uma releitura da mesma.
Existem muitos filhos considerados pródigos, que nada mais são do que pessoas que pensam, sentem e agem diferentemente das expectativas de seus contextos de vida, de suas famílias e da sociedade em que vivem. Talvez sejam apenas pessoas que não aceitaram vidas medíocres e buscaram e realizaram seus processos de individuação de forma digna, com coerência interna aos seus desejos e valores.
Nós seres humanos ainda estamos longe de realmente aceitar as diferenças. De fato, estas são, o tempo todo, rejeitadas e punidas.
Eu me lembro que quando decidi morar sozinha – o que não é a coisa mais comum nem da cultura brasileira, mineira, nem da minha família – fui questionada sobre o por que precisava disso já que tinha uma casa boa. Pensaram que eu não estava dando certo com minha mãe, outros insinuaram que eu a estava abandonando, ou que até mesmo não gostava mais da casa dela.
Tudo porque eu busquei realizar um desejo meu. Na verdade ninguém – ou talvez pouquíssimas pessoas – nunca me perguntou quais são os meus sonhos, mas sempre existe uma opinião de como minha vida deveria ser... E acho que isso não acontece apenas comigo; temos medo de perguntar pelo sonho alheio porque se recebermos a pergunta de volta, talvez não saibamos o que responder, já que estamos muito distanciados de nós mesmos.
O grande problema é quando ficamos na posição do filho não-pródigo, não por uma escolha consciente, mas por lealdades inconscientes aos padrões familiares e sociais. Quando não bancamos ou enfrentamos as consequências de assumir nossos mais profundos desejos.
Isso pode gerar um grande débito conosco mesmo... Que pode durar uma vida inteira... Quantas pessoas estão em casamentos infelizes, em empregos que não são suas vocações, em relações abusivas por não conseguirem dizer não e fazer uma nova e diferente escolha? Não podemos esquecer que hoje existem muitos entorpecentes e diversas são as compulsões ofertadas: drogas, álcool, comida, consumismo, trabalho, esporte, beleza, etc., todas usadas para aplacar a dor de suas vidas “não escolhidas”. Coloquei estas últimas palavras em aspas porque acredito que até a não escolha é uma forma de escolha.
Por isso tudo eu declaro em alto e bom tom que eu prefiro ser filha pródiga! Com todo respeito a todos que me são caros, mas eu preciso me respeitar e cuidar de mim em primeiro lugar, pois senão quem irá fazê-lo por mim?
E assim filho pródigo não seria mais aquele que estava morto e renasceu e sim aquele que não aceitou menos do que desejava e ambicionava para si mesmo, aquele que lutou com todas as suas forças, AQUELE QUE ESTAVA PRESO E SE LIBERTOU...
Adriana Freitas

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

DE CARÊNCIAS E VÔOS


“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...”
William Shakespeare

Esse trecho do Shakespeare reflete o que penso atualmente, mas infelizmente meu sentimento ainda não sintonizou com meu pensamento ou pelo menos a minha carência, quando ela aparece, faz questão de não entender isso.
Sim, porque quando estamos carentes a vontade é de exigir que o mundo ande rápido pras coisas acontecerem. Queremos o amor e queremos pra hoje, ou melhor ainda, pra ontem. Paciência que nada!
E de onde vem a carência que nos aumenta a ansiedade?
Vem das nossas necessidades não supridas, dos nossos desejos não realizados, dos nossos débitos com a gente mesmo.
E como consequência, projetamos (uma ou várias) expectativas nos nossos parceiros, esperando que eles tenham a fórmula mágica para nos satisfazer, para cobrir nossas faltas. Esperamos o Príncipe (ou Princesa) Encantado que vai chegar num cavalo branco – ou numa versão mais moderna num carrão importado como no filme “Uma linda mulher” – para nos salvar das nossas misérias.
Dessa forma, colocamos uma responsabilidade que seria nossa, nas costas de outra pessoa, que por mais bem intencionada que seja, não deveria carregar esse peso. Relacionamentos deveriam ser pássaros em vôo e não engaiolados, aproveitando a metáfora de alguns textos de Rubem Alves.
E antes mesmo de ter relacionamentos em vôo, eu me lembro que eu mesma quero SER pássaro em vôo! E estou ainda aprendendo a bater minhas asas...
Por isso, sempre que sinto essa falta, essa carência de ter um parceiro, procuro lembrar de me perguntar o que posso fazer por mim mesma? O que estou precisando neste momento?
E desde ontem me lembrei que estava me devendo investir no meu projeto de “Aprendiz de Escritora”. E então saiu este texto.
Bem, ainda continuo desejando parceria, mas em primeiro lugar estou cuidando das minhas necessidades, para que eu tenha “boas razões para que gostem de mim”.
 Adriana Freitas

sábado, 4 de junho de 2011

CUIDAR DO PLANETA... OU CUIDAR DO SER?

Sustentabilidade é o assunto em voga e em moda. Muitas empresas têm usado essa idéia mais como marketing do que como mudança de pensamento. Esses movimentos são válidos, porém não são suficientes na medida em que afetam apenas alguns comportamentos e não fazem uma mudança profunda de consciência. Em busca desta mudança, fóruns tem sido realizados, como o  “IV Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade” foi realizado em BH, dia 26 e 27 de maio de 2011, com pensadores importantes trazendo suas reflexões e discutindo idéias com a população interessada.
Caso você seja uma dessas pessoas que se sensibilizam com a sustentabilidade, deve estar preparado para enfrentar a grande massa ainda desligada da problemática planetária. Será necessário enfrentar todo um contexto que não mudou e seus esforços serão maiores para agir sustentavelmente.
Tomo como um simples exemplo a reciclagem. Eu separo o lixo reciclável na minha casa, mas no prédio onde moro não existe separação, no bairro onde moro não existe coleta seletiva e não há nenhum coletor para depositarmos os recicláveis. O que eu tenho feito é carregar a sacola de recicláveis até encontrar um catador para doá-la. Quando eu morava na casa da minha mãe, eu separava, mas ela não. E pra piorar, colocava os recicláveis para serem levados pelo coletor de lixo comum. Acho que ainda me falta a iniciativa para fazer uma micro campanha nos meus contextos de relação. Dessa forma, ter uma ação consciente requer um desejo verdadeiro, que perpassa primeiro pela conscientiz-ação.
Acredito que o maior desafio é que, para cuidar do nosso planeta, precisamos primeiro aprender a cuidar de nós mesmos, em todos os sentidos: das nossas carências, das nossas necessidades, dos nossos medos e ansiedades, das nossas loucuras e insanidades, de nossas idéias, de nossos sentimentos e emoções... Por detrás do desmazelo com o planeta, existe primeiro um abandono do ser humano consigo mesmo, deixando-o perdido em buscas ansiosas sustentadas pelo capitalismo desenfreado e por anestesias oferecidas pelas diversas compulsões.
Educação se faz necessária! A busca do SER se faz urgente! Mas a escolha é de cada um, isso se chama livre-arbítrio!
 Adriana Freitas

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

PAIXÃO PELA CULINÁRIA

Comecei minhas primeiras receitas, ainda adolescente, quando assumi as responsabilidades pela cozinha da casa da minha mãe. Combinei com ela que cozinharia o almoço, já que minha faculdade era a tarde. Nesse período aprendi somente o trivial e com o tempo, a rotina foi me desgastando a ponto de perder todo prazer de cozinhar. Com a vinda do trabalho, abandonei a rotina, mas ainda não era o momento de retornar à cozinha ou quando retornava, ainda me valia do trivial.

O primeiro chamado para minha mudança em relação a comida começou com as idas ao Café com Letras (BH) com meu amigo do coração Bruno, onde saboreávamos aquelas receitas deliciosas.

Um segundo passo, veio com a chegada de um grande amigo, o Felipe, que é um chef de cozinha muito especial. Nossas conversas sobre receitas e sabores, onde ele me ensinou (e ainda ensina) vários truques de temperos, o que combina com o que, o uso de iguarias, começaram a mudar o paradigma da comida na minha vida.

Mas somente após a minha mudança pra morar sozinha, ao poder colocar a culinária em prática com mais facilidade e quando quisesse, é que descobri uma grande paixão por cozinhar, e por descobrir sabores. Hoje mesmo estava, há pouco, procurando receitas na internet, para, a partir delas, ter idéias que comporão uma nova experiência. Isso mesmo: experiência.

Outro prazer que combina com a cozinha é receber amigos. Até minha amiga Carol, que eu sempre convido para ser minha cobaia (rs e ela sempre aceita de muito bom grado!) me deu uma cerâmica, trazida de uma de suas viagens a Colonia no Uruguai, com os seguintes dizeres: “Un aplauso para la cocinera!”. Ahh eu achei o máximo! rs e é claro que pendurei na parede da sala onde compartilhamos os sabores.

Todo esse prazer é fundamental na minha vida hoje.

Há poucos dias terminei de ler um livro do Flávio Gikovate, “Deixar de ser gordo”, e concluí o quanto as pessoas hoje, dentro da ditadura da beleza que lê-se magreza, deixaram de viver o prazer da comida e passaram a viver num padrão privativo, ou seja, mesmo sendo magras, as pessoas têm mente de gordas e vivem pensando em dietas e calorias. E Gikovate conclui que é a mudança da lógica da comida, de restrição e contenção para prazer, que faz com que as pessoas deixem realmente de ser gordas, seja fisicamente seja mentalmente.

sábado, 29 de janeiro de 2011

A BANALIZAÇÃO DOS CENTAVOS

Todos nós já colecionamos histórias de centavos perdidos e centavos ganhos em nossas compras do dia a dia. Normalmente a perda é maior.

Fico pensando se somente eu fico revoltada com a falta de atitude governamental a esse respeito ou se outros cidadãos têm esses mesmos questionamentos. Se hoje não se fabricam mais moedas de R$0,01 (um centavo), os preços deveriam passar a ser múltiplos de 5, ou seja, sempre arredondados para cinco centavos, o que acabaria com aquelas promoções ilusórias de preço vírgula 99 centavos.

Pode até ser mesquinharia da minha parte, mas imaginem o que isso gera num montante nacional? Se todos os dias perdemos no mínimo 0,02 centavos, quanto daria isso multiplicado por milhões de brasileiros? Para onde vai essa grana toda? São perguntas sem respostas para mim.

Vivo isso mas não concordo com isso! O que fazer? Denunciar onde? Pra quem? Quais autoridades seriam competentes pra lidar com esse problema?

Segue aqui então o meu protesto!