sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

CONTO DE NATAL

Adriana Freitas
Certa véspera de Natal, estava toda família reunida na casa de vovô e vovó. Alguns estavam frente a televisão, outros preparavam a ceia e as crianças brincavam no quintal.
Este teria sido mais um Natal comum em nossa família, se vovô não tivesse resolvido fazer algo completamente diferente do padrão das coisas que já havia feito antes.
Chegada a hora da ceia, como de costume, tivemos o momento religioso dos agradecimentos e o relembrar do significado cristão do Natal que titia sempre gosta de fazer, e logo em seguida vovô tomou a palavra:
- Hoje eu estou muito feliz, porque minha família está toda aqui reunida em harmonia. Nunca tinha reparado, todo esse tempo, em como somos tão diferentes uns dos outros. Cada um tem habilidades bem peculiares: uns gostam de tocar música, uns de mexer com as tecnologias, outros de contar causos, outros de cozinhar, aqueles que não gostam de fazer nada (risos) e ainda aqueles que só gostam de brincar.
...Sentado ali na minha cadeira de balanço, como nós avós costumamos fazer depois de uma certa idade, fui olhando pra cada um de vocês e fiquei muito feliz, porque se fossemos todos iguais, nossa casa ia ser muito sem graça! (mais risos). E quero fazer um brinde e uma bênção a diferença de cada um de vocês: Viva a diferença e a diversidade!
Quando eu achei que vovô tinha acabado de falar ele continuou, para a surpresa de todos.
- Mas isso não é o mais importante sobre o que eu gostaria de dizer. Na verdade estou profundamente agradecido a vida por tudo que ela tem me oferecido, pelo amor que recebo da minha querida esposa todos esses nossos anos de vida juntos, pela atenção e cuidados dos filhos, noras e genros e pelo carinho dos netos e netas. Talvez eu nunca tenha dito a vocês o quanto eu os amo e o quanto vocês são importantes pra mim. Passei a maior parte da vida preocupado com contas a pagar, com o trabalho e todas suas vicissitudes, resumindo, com a minha e a nossa sobrevivência. Sentado naquela cadeira hoje, pude ver que talvez esse seja meu último Natal...
...(protestos das tias – não fale assim pai!)
- Deixem-me continuar... essa é minha oportunidade única de falar desse meu amor.
Nesse momento todos já estavam embriagados pela emoção.
- O que desejo para todos, não só hoje como sempre, é que, mesmo em meio desse dia a dia corrido que vocês vivem hoje, nunca se esqueçam desse sentimento principal! E mais, falem alto e em bom tom sobre o seu amor para os amores da sua vida.
E com a taça de vinho na mão levantada, vovô desejou Saúde e Feliz Natal!
... (em coro, todos repetiram o Feliz Natal).
Vovô nunca foi uma pessoa de palavras sábias. Não sei se ele foi tomado pela emoção do momento, ou se a proximidade da morte o tocou profundamente. Mas todos ficamos emocionados com aqueles dizeres. De alguns brotaram lágrimas dos olhos, outros ficaram pensativos, outros não se permitiram sentir nada como de costume, e eu fiquei extasiada... Não pelo significado das palavras ditas, mas simplesmente porque estava ali, por inteiro, totalmente entregue aquele momento junto da minha família.

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