Nossa percepção
é extremamente seletiva. O que enxergamos está diretamente ligado ao que somos.
Outro dia fui
fazer uma viagem, fiquei num hotel, e depois ao encontrar com minha irmã, quem
tinha feito a reserva pra mim, ela me falou que no quarto tinha televisão e eu
disse que não tinha. Ela achou estranho pois no ato da reserva afirmaram que
teria. Ao voltar pro hotel, me deparei com a TV, bem em destaque na parede,
próximo de onde eu havia colocado algumas bolsas.
Como explicar o por
que eu não tinha visto o objeto? Por que minha percepção não o tinha captado? O
fato é que assistir TV convencional não é uma prática tampouco um prazer na
minha vida. Eu tenho sim costume de assistir filmes, o que é bem específico e
não era um interesse para mim durante aquela viagem. Por outro lado, eu estava
muito empolgada, bem enfocada com meu objetivo e totalmente envolvida
emocionalmente com a idéia do reencontro com os familiares e então minha
percepção ficou “reduzida” a isto.
Lembrei também
de um outro momento no qual a percepção revelou a pessoa. Estávamos minha amiga
e eu passeando na região da Savassi em BH, quando nos deparamos com um casal
que passeava com dois cachorrinhos e um bebê. Minha amiga é apaixonada com cães
e parou o casal para brincar com os bichinhos. Depois que nos despedimos, eu
comentei com ela do bebê e ela me disse que não tinha nem visto a criança. Ela
não tem interesse em ter filhos e até mesmo se irrita com algumas situações
onde há barulho ou movimento de crianças, na visão dela incomodando.
Vemos então como
nossa visão/percepção está limitada, condicionada pelas nossas idéias, valores,
sentimentos, emoções, desejos e formas de ver a vida.
No filme “Quem
somos nós” com direção de William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente, identificamos
a questão da percepção, em uma das cenas que se refere ao momento da
colonização, quando os barcos estavam chegando no continente e os índios não
puderam vê-los, pois aquela imagem era completamente desconhecida e diferente
de tudo que eles poderiam imaginar, até que um deles viu e então os outros
foram enxergando.
Antigamente a
ciência, numa busca de objetividade plena, considerava que o cientista deveria
ser neutro para não interferir no observado e a realidade pudesse ser
desvendada na sua forma mais pura. Atualmente, com a evolução da ciência e a
emergência dos novos paradigmas, uma das discussões se refere a inclusão do
observador como parte da realidade observada, não existindo portanto, uma
realidade pura sem um contexto ou uma relação observador-observado. Ou seja,
também no contexto científico já se considera o indivíduo que percebe, sendo o
cientista também um ser limitado pela sua percepção e suas contribuições estão
relacionadas a quem ele é.
Se a nossa
percepção está ligada ao que somos, se só enxergamos o que temos história pra
enxergar, como podemos ampliar então nossa percepção? Se é que queremos
realmente ampliá-la... (Tenho certeza de que muitos não querem por comodismo ou
por medo).
Acredito que a
chave para essa ampliação é a abertura para experimentar o que a vida tem a nos
oferecer. Nunca chegaremos a uma percepção total, pois isso é impossível para
nossa condição humana, mas se enfrentarmos nossos medos e se nos abrirmos para
vivenciar o diferente, então uma nova percepção e realidade se abrirão para
nós.
Para tal, é
necessário desapegarmos das roupas velhas, e das nossas ilusões de segurança.
E construir a
coragem para fazer novas escolhas...
Adriana
Freitas
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