sexta-feira, 16 de setembro de 2011

FILHO PRÓDIGO AS AVESSAS


A história bíblica sobre o filho pródigo o aponta como aquele que estava morto e renasceu, aquele que estava perdido e foi resgatado.
Mas ao rever essa história fiquei fantasiando sobre uma releitura da mesma.
Existem muitos filhos considerados pródigos, que nada mais são do que pessoas que pensam, sentem e agem diferentemente das expectativas de seus contextos de vida, de suas famílias e da sociedade em que vivem. Talvez sejam apenas pessoas que não aceitaram vidas medíocres e buscaram e realizaram seus processos de individuação de forma digna, com coerência interna aos seus desejos e valores.
Nós seres humanos ainda estamos longe de realmente aceitar as diferenças. De fato, estas são, o tempo todo, rejeitadas e punidas.
Eu me lembro que quando decidi morar sozinha – o que não é a coisa mais comum nem da cultura brasileira, mineira, nem da minha família – fui questionada sobre o por que precisava disso já que tinha uma casa boa. Pensaram que eu não estava dando certo com minha mãe, outros insinuaram que eu a estava abandonando, ou que até mesmo não gostava mais da casa dela.
Tudo porque eu busquei realizar um desejo meu. Na verdade ninguém – ou talvez pouquíssimas pessoas – nunca me perguntou quais são os meus sonhos, mas sempre existe uma opinião de como minha vida deveria ser... E acho que isso não acontece apenas comigo; temos medo de perguntar pelo sonho alheio porque se recebermos a pergunta de volta, talvez não saibamos o que responder, já que estamos muito distanciados de nós mesmos.
O grande problema é quando ficamos na posição do filho não-pródigo, não por uma escolha consciente, mas por lealdades inconscientes aos padrões familiares e sociais. Quando não bancamos ou enfrentamos as consequências de assumir nossos mais profundos desejos.
Isso pode gerar um grande débito conosco mesmo... Que pode durar uma vida inteira... Quantas pessoas estão em casamentos infelizes, em empregos que não são suas vocações, em relações abusivas por não conseguirem dizer não e fazer uma nova e diferente escolha? Não podemos esquecer que hoje existem muitos entorpecentes e diversas são as compulsões ofertadas: drogas, álcool, comida, consumismo, trabalho, esporte, beleza, etc., todas usadas para aplacar a dor de suas vidas “não escolhidas”. Coloquei estas últimas palavras em aspas porque acredito que até a não escolha é uma forma de escolha.
Por isso tudo eu declaro em alto e bom tom que eu prefiro ser filha pródiga! Com todo respeito a todos que me são caros, mas eu preciso me respeitar e cuidar de mim em primeiro lugar, pois senão quem irá fazê-lo por mim?
E assim filho pródigo não seria mais aquele que estava morto e renasceu e sim aquele que não aceitou menos do que desejava e ambicionava para si mesmo, aquele que lutou com todas as suas forças, AQUELE QUE ESTAVA PRESO E SE LIBERTOU...
Adriana Freitas

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