A história bíblica sobre o filho pródigo o aponta
como aquele que estava morto e renasceu, aquele que estava perdido e foi
resgatado.
Mas ao rever essa história fiquei fantasiando sobre
uma releitura da mesma.
Existem muitos filhos considerados pródigos, que
nada mais são do que pessoas que pensam, sentem e agem diferentemente das
expectativas de seus contextos de vida, de suas famílias e da sociedade em que
vivem. Talvez sejam apenas pessoas que não aceitaram vidas medíocres e buscaram
e realizaram seus processos de individuação de forma digna, com coerência
interna aos seus desejos e valores.
Nós seres humanos ainda estamos longe de realmente
aceitar as diferenças. De fato, estas são, o tempo todo, rejeitadas e punidas.
Eu me lembro que quando decidi morar sozinha – o
que não é a coisa mais comum nem da cultura brasileira, mineira, nem da minha
família – fui questionada sobre o por que precisava disso já que tinha uma casa
boa. Pensaram que eu não estava dando certo com minha mãe, outros insinuaram
que eu a estava abandonando, ou que até mesmo não gostava mais da casa dela.
Tudo porque eu busquei realizar um desejo meu. Na
verdade ninguém – ou talvez pouquíssimas pessoas – nunca me perguntou quais são
os meus sonhos, mas sempre existe uma opinião de como minha vida deveria ser...
E acho que isso não acontece apenas comigo; temos medo de perguntar pelo sonho
alheio porque se recebermos a pergunta de volta, talvez não saibamos o que
responder, já que estamos muito distanciados de nós mesmos.
O grande problema é quando ficamos na posição do
filho não-pródigo, não por uma escolha consciente, mas por lealdades
inconscientes aos padrões familiares e sociais. Quando não bancamos ou
enfrentamos as consequências de assumir nossos mais profundos desejos.
Isso pode gerar um grande débito conosco mesmo...
Que pode durar uma vida inteira... Quantas pessoas estão em casamentos
infelizes, em empregos que não são suas vocações, em relações abusivas por não
conseguirem dizer não e fazer uma nova e diferente escolha? Não podemos
esquecer que hoje existem muitos entorpecentes e diversas são as compulsões
ofertadas: drogas, álcool, comida, consumismo, trabalho, esporte, beleza, etc.,
todas usadas para aplacar a dor de suas vidas “não escolhidas”. Coloquei estas
últimas palavras em aspas porque acredito que até a não escolha é uma forma de
escolha.
Por isso tudo eu declaro em alto e bom tom que eu
prefiro ser filha pródiga! Com todo respeito a todos que me são caros, mas eu
preciso me respeitar e cuidar de mim em primeiro lugar, pois senão quem irá
fazê-lo por mim?
E
assim filho pródigo não seria mais aquele que estava morto e renasceu e sim
aquele que não aceitou menos do que desejava e ambicionava para si mesmo,
aquele que lutou com todas as suas forças, AQUELE QUE ESTAVA PRESO E SE
LIBERTOU...
Adriana Freitas
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